O menino de seis anos perdeu a sua bola. Era a única bola que ele tinha para brincar, a alegria dos meninos da rua. Ela furou ao bater nos pregos de um muro. O menino sofreu durante muito tempo, por não encontrar nada que lhe divertisse tanto quanto aquele brinquedo. O seu sofrimento era sincero.
Já a mãe do menino, essa sofria porque era infeliz no emprego. Não podia largá-lo, porque seria difícil encontrar outro. E, não era uma sociedade de utopias, mesmo que encontrasse, seria difícil que fosse melhor do que o que ela tinha. E tinha mais duas bocas para sustentar. E daquela situação ela não saia.
A irmã do menino, de 16 anos, essa sofria por uma paixão. Sofria com sinceridade, e chorava, melancólica pelos cantos. Alguns diziam que sofria em demasia, porque o rapaz não prestava. Mas ela o amava e ele não a correspondia. Alguns diziam “tem coisa pior no mundo, menina”, mas ela sofria o sofrimento dela, na intensidade que oscilava no dia a dia, maior, menor ou igual.
Já o pai, esse poderia chorar porque estava doente. E sabia que iria deixar de ver a família, dali a algum tempo. E não havia avisado a ninguém, porque cada um tinha as suas tristezas. Ele podia dizer que a sua tristeza, a da morte, era superior à amargura amorosa, à frustração profissional, ou ainda à falta prática da diversão da bola do caçula. Mas ele sabia que cada um tinha a sua aflição, e que essa não se mede em quantidade. Não adianta dizer que a tristeza de seu caçula era menor que a sua. Cada um tem a sua dor, lida com ela da forma que dá.
E o pai tirou mais essa lição, daqueles dias terminais. Sentiriam falta dele. Mas também sentiriam falta da bola, do emprego, do namorado. Questões que permeavam a vida de cada um com muito mais proximidade do que ele próprio, que apenas observava aquelas dores, pensando, sem dor, na sua própria.
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