jueves, 19 de febrero de 2009

Rugas

Eu me pergunto se as rugas são más. Vejam, rugas são cicatrizes de expressões. Digamos, em um eufemismo, “sinais de expressão”. E são. Normalmente, quem mais faz careta é quem mais tem rugas. Ou quem ri muito, fica com aquela no canto da boca. E se a pessoa ri e aperta os olhos, de tanta alegria, fica com pés de galinha.
Pé de galinha, considerado horroroso, a-ca-ba com o olhar.
Por quê?

Rugas são como um documento da expressividade do ser humano ao longo de sua vida. Feias são as da testa, que são carrancudas.
Mas pés de galinha e aquela do sorriso, que quando vejo pessoas com ela, me lembro de cachorros simpáticos, por que, feias?

Temos que parar com isso. Assumir as rugas felizes, e continuar construindo elas, através dos sorrisos.
Li uma vez que havia mulheres que não tinham rugas. Não tinham porque não podiam rir ou sorrir muito. Era uma cara de paisagem, um dia atrás do outro. Então, quando olham para o espelho, não têm do que se lembrar.

Lembrei agora do sargento Tainha, do recruta Zero. Ele não sabia sorrir. Não conseguia forçar os músculos da face. Ele só tinha rugas carrancudas.
Isso sim é feio.


(ao lado, Sargento Tainha, exercitando seu sorriso)

lunes, 9 de febrero de 2009

O beijo que enfeita a rua


Essa é uma foto de um fotógrafo francês chamado Robert Doisneau. Ele é bem famoso e tem fotos muito bonitas e simples, mas essa deve ser a mais famosa. Chama “O Beijo No Hotel De Ville”. Veja como tudo é banal, diante do beijo do casal. De como ele se destaca no meio da multidão e do trânsito que corre, desatento ao afeto que atrapalha a sua caminhada na calçada ou na rua. Também observe como os amantes não se importam com o trânsito, com o frio, com os transeuntes, com a diferença de altura. Nada nessa foto é mais importante do que esse beijo, nem o café, de onde a foto foi tirada; nem os carros, que vêm e vão; nem mesmo o hotel- no título da foto - que é apenas uma paisagem ao fundo. O que importa mesmo é o flagrante do beijo em um dia qualquer, no meio da rua movimentada, de pessoas inexpressivas, cuidando de suas vidas, alheias ao amor que interrompe o fluxo da rua. Importa mesmo isso, a paixão nos lábios do homem e a perplexidade feliz, que dá para se perceber nas mãos e no pescoço da mulher, que está se esticando para poder beijar melhor.

domingo, 8 de febrero de 2009

Maravilhas da minha casa, na infância

Quando eu era menor, eu achava muitas coisas fascinantes. Por exemplo, eu gostava de ver o cordão umbilical dos peixes. Depois, passei a notar que eles ficavam maiores em peixas barrigudas, as peixas grávidas, e achava que era um cordão umbilical dos peixinhos no útero da mãe, que queriam fazer contato com o aquário. E ali eu passava tempos, na minha vã filosofia, até que eu falei com algum adulto de me disseram “é cocô, Nina.”

Desilusão.

Outra coisa que também me fascinava eram as fadas, que ficavam visíveis no raio de sol, que entrava, de tarde, pela janela do quarto da minha mãe. Eram muitas, branquinhas, com asas simétricas, voando graciosamente em torno de mim. Sendo mostradas pela luz que entrava, como uma projeção de cinema no chão do quarto. Às vezes eu parava o dever de casa para olhar aquilo ali, aquela dança de fadas, até que um dia me disseram ou- sei lá - conclui, que era apenas poeira.

Mais uma desilusão.

É incrível como as coisas podem não ser o que parecem, ser mais bonitas, se você olhar para elas de um jeito inocente.

jueves, 5 de febrero de 2009

Matemática

O mundo é um plural de singulares.

Singulares são as vidas, que vivem sós, por mais que se diga que se vive em conjunto.
Mas não há o plural.
Há um conjunto de uns.
Diria o "The Year of The Rat" que "one plus one is one together" e é isso o que é.
Não são fundidos, são apenas lado a lado, formando um dois, que nada mais é do que um mais um.

A singularidade não é má.


The Year of The Rat
http://www.youtube.com/watch?v=PScUdYTO0UM

Carteiro dos milagres

Algumas pessoas atribuem milagres a santos. Milagres miraculosos mesmo, de cura de doenças e congêneres. Eu não acredito em santos ou interseções entre eu e Deus. Talvez seja a influência da minha mãe, talvez seja a minha falta de vergonha perante as autoridades. Talvez, a pressa para que o pedido chegue logo de uma vez e pare com a pouca vergonha da burocracia. Não acredito que o céu vá ter burocracias, que foi uma coisa inventada pelo demo e pela sociedade terrena. Mas não acredito no demo e acho que a sociedade terrena é algo primitivo em certos aspectos, principalmente em sua burocracia.

Então, voltando aos milagres. Acredito nos milagres pequeninos e nos médios, porque eles já me foram feitos. Agora há pouco, estava procurando com mais fé em Deus do que em mim mesma, o cabo USB da câmera digital. E estava naquela, já pensando que hoje, só se eu tirasse uma fiação louca para conseguir passar as fotos e blábláblá, olhei no lugar mais ridículo e encontrei o tal fio. Depois de ter pedido a Deus que fosse brother e me guiasse até o negócio. E daí eu fico pensando que Deus deve existir, porque não é possível que tudo que eu peça ele me dê.

Um dia, resolvi testar o Criador pedindo para que entrasse uma pessoa em minha vida. Não um conhecido. Eu idealizei, Deus apontou e disse, “ta bom pra você?” Uns meses depois eu descobri que Ele havia me dado o que eu havia pedido, detalhe por detalhe. Pensei que Deus deveria existir mesmo. Assim como quando eu estava perdida, perdida mesmo, e rezei para chegar a uma casa onde ia, e a casa apareceu na estrada onde eu estava - só - tarde da noite.

Durante a vida, pedi milagres ou até mesmo simples pedidos que achava que seriam melhores para mim. E Deus, pai babão que é (sem ofensas, Senhor!), me deu. Até que eu descobri que Ele sabia o que era melhor para mim. Não eu. Então, por vezes, quando eu vou pedir algo, eu paro, penso e peço, ajuntando um “se for o que vai me fazer mais feliz”. E Deus me dá, de um jeito ou de outro.
Pode até demorar, mas vem.

Talvez Deus não tenha SEDEX 10 para milagres grandes.
Talvez sejam muitos milagres grandes, para a lotação par avion de correios celestes.
Mas Ele é um grande Carteiro, e nunca erra o endereço ou a encomenda, sejam bilhetes telegráficos ou caixas de presentes celestiais.