martes, 7 de septiembre de 2010

Vasos

Quando eu era pequena, costumava ganhar de um amigo israelita do meu pai - chamávamos carinhosamente de vovô Gornat - réplicas de vasos encontrados em sítios arqueológicos. Eram réplicas em miniaturas, que tínhamos que montar. Juntávamo-nos em torno daquele ideal. Montávamos o vaso, que era belo apesar das rachaduras e das pecinhas que faltavam (faltavam também no vaso do sítio arqueológico).

Um era mais belo do que o outro. Eu tinha preferência por um que era magro e alto, um vaso de azeite, dizia o folheto que vinha na caixa. Tinha até um pedestal para colocá-lo. Mas a verdade é que cada vaso finalizado era uma glória, mas terminado ele, esperávamos o outro. Acredito que o vaso de azeite foi o último que chegou, ou penúltimo, e depois dele nem me interessei tanto por outros.

O fato é que montar aqueles quebra-cabeças históricos seria maravilhoso até hoje, para qualquer pessoa. Mas eles terminaram, foram finitos, extraíamos dele toda sua diversão em tardes de pequenas arqueólogas, e esperávamos pelo próximo que vovô Gornat mandaria, junto com algum outro presente bonito. Presentes bonitos havia, mas os mais esperados eram os vasos, já que só viravam objetos através do nosso esforço, dedicação.

Acabou a coleção, só restou a lembrança. Todos os vasos montadinhos ficaram de caixa em caixa, de mudança em mudança, até que os doei todos para um professor de historia, e sabe Deus que fim levaram os mini tesouros arqueológicos da Terra Santa. Até o de azeite eu doei. Quis ficar com ele, mas por quê? Doei, doei.

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