domingo, 12 de septiembre de 2010

O amor, Pierre Levy, e, um dia, quem sabe, todos nós.

Nize Pellanda: O amor, [Lévy suspira e os entrevistadores riem] banido da ciência clássica, como atrapalhador do conhecimento, volta na sua obra, e também na de outros cientistas complexos, como categoria cognitiva fundamental. O que você poderia dizer sobre isso?

Pierre Lévy: Nize, agradeço muito por me fazer essa pergunta [risos]. Mais uma vez, temos de recorrer à experiência pessoal. É impossível compreender realmente alguém, um ser humano que está à nossa frente, sem amá-lo. Quando amamos alguém, tentamos nos colocar em seu lugar, entender seu interior, aproximamos nosso coração do coração dele e o entendemos. Há uma profunda relação entre conhecimento e amor. Entre duas pessoas, é evidente. Mas, mesmo em termos científicos, quando vemos a forma pela qual os entomologistas estudam formigas ou abelhas, se eles não as amassem, será que poderiam passar anos e anos estudando-as? Quando queremos conhecer uma coisa é porque a amamos. A relação entre conhecimento e amor é muito profunda. Eu diria também que, no plano filosófico, é algo que iria requerer longas explanações, mas, no fundo, o que é pensamento? Deleuze dizia que há uma forte relação entre pensamento e aprendizado. O pensamento não é o reconhecimento de algo que já sabemos. Temos um conceito, vemos uma coisa e, aí, tal coisa é tal conceito. Não é nada disso. É algo que antes não sabemos, que antes é caótico e incerto e que, de repente, nós produzimos. Então, produzimos um conceito, uma representação, que emerge juntamente com a percepção que temos de alguma coisa. E, por isso, temos de nos transformar. Temos, talvez, de abandonar velhos conceitos para produzir algo novo. Somos obrigados a nos tornar outra coisa. O que é aprender? É abandonar velhos reflexos, abandonar os preconceitos e penetrar em um conhecimento diferente. E isso é doloroso. É aceitar se transformar, aceitar ir em direção à alteridade. Aprender é isso. Pensar é isso. Ir em direção de outra coisa. É transformar-se, não é? Porque ser, pensar, aprender, tornar-se é a mesma coisa, não é? Somos o que sabemos, o que experimentamos. Nós nos tornamos o que aprendemos. É o movimento de ir em direção ao outro, à alteridade. O que é o amor? É ir em direção ao outro. É aproximar-se do outro, sair de si mesmo. Se quisermos ser, estando realmente vivos, temos de sair de nós mesmos ou acolher o mundo em nós, acolher o outro em nós. O amor é a mesma coisa. É ir em direção ao outro ou acolher o outro em si, tornar-se o outro. Para mim, não somente há uma identificação entre conhecimento e amor, mas, também, a identificação entre o conhecimento, o amor e a existência, a mais intensa e viva.

O amor, Pierre Levy, e, um dia, quem sabe, todos nós.

Nize Pellanda: O amor, [Lévy suspira e os entrevistadores riem] banido da ciência clássica, como atrapalhador do conhecimento, volta na sua obra, e também na de outros cientistas complexos, como categoria cognitiva fundamental. O que você poderia dizer sobre isso?

Pierre Lévy: Nize, agradeço muito por me fazer essa pergunta [risos]. Mais uma vez, temos de recorrer à experiência pessoal. É impossível compreender realmente alguém, um ser humano que está à nossa frente, sem amá-lo. Quando amamos alguém, tentamos nos colocar em seu lugar, entender seu interior, aproximamos nosso coração do coração dele e o entendemos. Há uma profunda relação entre conhecimento e amor. Entre duas pessoas, é evidente. Mas, mesmo em termos científicos, quando vemos a forma pela qual os entomologistas estudam formigas ou abelhas, se eles não as amassem, será que poderiam passar anos e anos estudando-as? Quando queremos conhecer uma coisa é porque a amamos. A relação entre conhecimento e amor é muito profunda. Eu diria também que, no plano filosófico, é algo que iria requerer longas explanações, mas, no fundo, o que é pensamento? Deleuze dizia que há uma forte relação entre pensamento e aprendizado. O pensamento não é o reconhecimento de algo que já sabemos. Temos um conceito, vemos uma coisa e, aí, tal coisa é tal conceito. Não é nada disso. É algo que antes não sabemos, que antes é caótico e incerto e que, de repente, nós produzimos. Então, produzimos um conceito, uma representação, que emerge juntamente com a percepção que temos de alguma coisa. E, por isso, temos de nos transformar. Temos, talvez, de abandonar velhos conceitos para produzir algo novo. Somos obrigados a nos tornar outra coisa. O que é aprender? É abandonar velhos reflexos, abandonar os preconceitos e penetrar em um conhecimento diferente. E isso é doloroso. É aceitar se transformar, aceitar ir em direção à alteridade. Aprender é isso. Pensar é isso. Ir em direção de outra coisa. É transformar-se, não é? Porque ser, pensar, aprender, tornar-se é a mesma coisa, não é? Somos o que sabemos, o que experimentamos. Nós nos tornamos o que aprendemos. É o movimento de ir em direção ao outro, à alteridade. O que é o amor? É ir em direção ao outro. É aproximar-se do outro, sair de si mesmo. Se quisermos ser, estando realmente vivos, temos de sair de nós mesmos ou acolher o mundo em nós, acolher o outro em nós. O amor é a mesma coisa. É ir em direção ao outro ou acolher o outro em si, tornar-se o outro. Para mim, não somente há uma identificação entre conhecimento e amor, mas, também, a identificação entre o conhecimento, o amor e a existência, a mais intensa e viva.

martes, 7 de septiembre de 2010

Vasos

Quando eu era pequena, costumava ganhar de um amigo israelita do meu pai - chamávamos carinhosamente de vovô Gornat - réplicas de vasos encontrados em sítios arqueológicos. Eram réplicas em miniaturas, que tínhamos que montar. Juntávamo-nos em torno daquele ideal. Montávamos o vaso, que era belo apesar das rachaduras e das pecinhas que faltavam (faltavam também no vaso do sítio arqueológico).

Um era mais belo do que o outro. Eu tinha preferência por um que era magro e alto, um vaso de azeite, dizia o folheto que vinha na caixa. Tinha até um pedestal para colocá-lo. Mas a verdade é que cada vaso finalizado era uma glória, mas terminado ele, esperávamos o outro. Acredito que o vaso de azeite foi o último que chegou, ou penúltimo, e depois dele nem me interessei tanto por outros.

O fato é que montar aqueles quebra-cabeças históricos seria maravilhoso até hoje, para qualquer pessoa. Mas eles terminaram, foram finitos, extraíamos dele toda sua diversão em tardes de pequenas arqueólogas, e esperávamos pelo próximo que vovô Gornat mandaria, junto com algum outro presente bonito. Presentes bonitos havia, mas os mais esperados eram os vasos, já que só viravam objetos através do nosso esforço, dedicação.

Acabou a coleção, só restou a lembrança. Todos os vasos montadinhos ficaram de caixa em caixa, de mudança em mudança, até que os doei todos para um professor de historia, e sabe Deus que fim levaram os mini tesouros arqueológicos da Terra Santa. Até o de azeite eu doei. Quis ficar com ele, mas por quê? Doei, doei.