Nize Pellanda: O amor, [Lévy suspira e os entrevistadores riem] banido da ciência clássica, como atrapalhador do conhecimento, volta na sua obra, e também na de outros cientistas complexos, como categoria cognitiva fundamental. O que você poderia dizer sobre isso?
Pierre Lévy: Nize, agradeço muito por me fazer essa pergunta [risos]. Mais uma vez, temos de recorrer à experiência pessoal. É impossível compreender realmente alguém, um ser humano que está à nossa frente, sem amá-lo. Quando amamos alguém, tentamos nos colocar em seu lugar, entender seu interior, aproximamos nosso coração do coração dele e o entendemos. Há uma profunda relação entre conhecimento e amor. Entre duas pessoas, é evidente. Mas, mesmo em termos científicos, quando vemos a forma pela qual os entomologistas estudam formigas ou abelhas, se eles não as amassem, será que poderiam passar anos e anos estudando-as? Quando queremos conhecer uma coisa é porque a amamos. A relação entre conhecimento e amor é muito profunda. Eu diria também que, no plano filosófico, é algo que iria requerer longas explanações, mas, no fundo, o que é pensamento? Deleuze dizia que há uma forte relação entre pensamento e aprendizado. O pensamento não é o reconhecimento de algo que já sabemos. Temos um conceito, vemos uma coisa e, aí, tal coisa é tal conceito. Não é nada disso. É algo que antes não sabemos, que antes é caótico e incerto e que, de repente, nós produzimos. Então, produzimos um conceito, uma representação, que emerge juntamente com a percepção que temos de alguma coisa. E, por isso, temos de nos transformar. Temos, talvez, de abandonar velhos conceitos para produzir algo novo. Somos obrigados a nos tornar outra coisa. O que é aprender? É abandonar velhos reflexos, abandonar os preconceitos e penetrar em um conhecimento diferente. E isso é doloroso. É aceitar se transformar, aceitar ir em direção à alteridade. Aprender é isso. Pensar é isso. Ir em direção de outra coisa. É transformar-se, não é? Porque ser, pensar, aprender, tornar-se é a mesma coisa, não é? Somos o que sabemos, o que experimentamos. Nós nos tornamos o que aprendemos. É o movimento de ir em direção ao outro, à alteridade. O que é o amor? É ir em direção ao outro. É aproximar-se do outro, sair de si mesmo. Se quisermos ser, estando realmente vivos, temos de sair de nós mesmos ou acolher o mundo em nós, acolher o outro em nós. O amor é a mesma coisa. É ir em direção ao outro ou acolher o outro em si, tornar-se o outro. Para mim, não somente há uma identificação entre conhecimento e amor, mas, também, a identificação entre o conhecimento, o amor e a existência, a mais intensa e viva.