miércoles, 31 de diciembre de 2008

Agradecimentos de fim de ano em metáfora de aniversário


Era o aniversário da Gioconda, e ela, como toda criança de 8 anos educada, esperava presentes legais, porém, agradecia polidamente com o “não precisava, o importante é a sua presença.” Gioconda nem sabia o que era presença, e é claro que o que quer que fosse presença, o que importava, mesmo, era o presente. Mas a mãe dela disse pra ela dizer isso, e assim foi a festa.

Foi mesmo uma festa muito legal, no final do ano, e a Gioconda ganhou muitos presentes. Só que ela só pode abrir a maioria no final da festa. Alguns, ela abriu antes, e ganhou uma boneca legal, que passou, posteriormente a andar sempre com ela. Tinha um nome esquisito, Natasha, era quase do tamanho dela, e ela adorou a tal boneca. Até andou pela festa com a Natasha. Nome russo. Mas é porque ela achava um nome eufônico. Ela também não sabia o que era eufônico, mas que era, para ela, era. Gostava de repetir.

Então, a festa foi se passando, incidentes rolaram, como quando ela ficou meio mal de tanto comer brigadeiro. Mas também teve horas boas, com o palhaço e o parabéns. Então, chegou a hora de abrir os presentes. Seu pai estava ali, fiscalizando sua cara. Ela era uma menina educada, e não fez exatamente cara muito feia quando ganhou aquelas tranqueiras de menina de 5 anos (já disse, fazia 8, grandes diferenças), ou quando ganhou aqueles biscuis. Ganhou muitos, aliás. Ela não curtia, porque mais juntava poeira, não se mexia, não dava pra brincar. Biscuis não eram legais, mas ela guardou aquilo para ela, deu um sorriso amarelo e continuou abrindo os presentes. E o pai só olhando. Tinha uma caixa enorme, com um jogo dentro, que ela só aprendeu a gostar de brincar uns dois anos depois. E ela tinha posto tanta fé na caixona. Também ganhou roupas. Que criança gosta de roupas?

Então, começou a melhorar. Ganhou uma caixa de docinhos. Bem, seria muito bom mesmo, quando a dor de barriga passasse. Brigadeiros demais. Então, ela viu uma caixinha pequena. Tinha olhado para ela, tão sem-graça, desde o começo dos presentes. Nem botava muita fé. Abriu. Leu o papel, já achando que poderia ser um vale-livro. Vale livro para crianças, que idéia. Mas era uma passagem de avião. Qual a surpresa de ver, no fundo da caixinha, o Mickey. E a Minnie. E os resorts, e os parques. Eram passagens para a Disney. Assim, o melhor presente, logo no final, numa caixinha tão discreta. E o seu pai sorriu ao ver o sorriso, dessa vez sincero, no rosto dela.

E a viagem da Gioconda valeu. Valeu toda a desilusão dos presentes xoxos daquele aniversário. E durou mais do que o próprio aniversário. E ela contou da viagem para todo mundo, e até tiveram inveja dela, mas ela deseja que todo mundo possa ter a alegria de ir à Disney, e de se divertir como ela se divertiu. Ela, a boneca, e a caixa de docinhos. Ela curtiu os melhores presentes lá na Disney, todos juntos, prolongando aquele aniversário de altos e baixos.

domingo, 28 de diciembre de 2008

A Princesa (?) e a ervilha.

Hoje, ao arrumar alguns colchões de uma casa de praia, vários, uns por cima dos outros, lembrei de uma fábula de uma princesa. Chama-se A Princesa e a Ervilha, de Hans Andersen. Em tal fábula, uma rainha pôs à prova a identidade de uma moça que dizia ser princesa ao colocar uma ervilha embaixo de muitos, muitos colchões. A tal princesa sentiu a ervilha, mesmo embaixo daquele mundo de colchões que havia por cima. E por isso, coitada, não conseguiu dormir direito. Ficou foi com dor nas costas.
Essa fábula mostra a frescura de uma princesa, em minha opinião. Assim, numa interpretação mais crua, é claro. Mas será essa a opinião de uma menina de 5 anos. Então, você tem uma torre de colchões, que precisa de uma escada para alcançar, e porque, depois de todo trabalho (inútil, diga-se de passagem) de colocar colchões, roupa de cama, travesseiros & escada, porque tem uma bendita ervilha não-cozida embaixo desse mundo de coisas, você dorme mal. Ora, que agonia.
Acho que essa fábula, no seu cru, ensina meninas a serem frescas, como a princesa.Se o colchão não for ortobom, n consigo.A verdadeira princesa (no sentido de boa educação e da palavra) não deveria ter reclamado da porcaria da ervilha debaixo de toda fofisse de colchões. Teria agradecido a estada, e seduzido o príncipe com suas “armas de mujer”. Aliás, fosse eu o príncipe,[1] não iria ter ficado com ela. Mulher que note ervilha embaixo de torre de colchões, que fará quando aparecer uma espinha nas costas atléticas de seu marido. No mínimo, se negar a tocá-lo.
Então, viva as fábulas das mulheres sem frescura, do tipo cinderela. Aquela sim, era uma princesa. Não tinha problemas com coisas menores, era amiga dos ratos, foi e voltou do baile, malandra que era, e conquistou o príncipe.High Five, Cindy!

[1] a tal princesa casou com o príncipe da fábula depois. Sabe como é, nessas fábulas, se tiver um príncipe e uma princesa, tem o felizes para sempre.

lunes, 29 de septiembre de 2008

Texto livre para a Faculdade, sobre um documentário. Meu xodó de inspiracao dos últimos tempos.
=D

O documentário O Olhar Estrangeiro trata de vários filmes estrangeiros tendo como tema o Brasil. Dizer isso seria restritivo, porque, para começar, a maioria dos filmes não retrata o “Brasil”, mas apenas uma parte dele, geograficamente falando. O mais popular Brasil que se trata, é o carioca. Suas praias, suas mulheres, seu samba e seu carnaval. Não se enxergam as outras praias, ou os outros ritmos, tampouco os outros carnavais brasileiros. Isso já seria restringir o estereótipo geográfico e cultural suficientemente, mas não: a maioria dos filmes faz uma leitura estereotipada do brasileiro. Estereótipo bastante conhecido e que já vem de décadas, são citados por Adorno na sua “Dialética do Esclarecimento”, e ajudam a se perceber uma idéia simplista e errada de uma raça ou de uma cultura. “Estereótipos podem ser baseados em alguma realidade, mas não podem se aplicar ao geral”, disse coerentemente Tony Plana, ator américo-cubano entrevistado que também parece sofrer com o estereótipo cedido aos “latinos”, que têm suas origens tão múltiplas, mas se fundem em um mesmo termo e molde, aos olhos estrangeiros.

Alguns dos filmes nem são feitos no Brasil ou têm atores brasileiros. Cria-se uma atmosfera brasileira em estúdios Norte Americanos (normalmente na Flórida) como em “Brenda Star” e “Lambada, a Dança Proibida” e/ou contratam-se atores latino-americanos para encenar, como em “The Burning Season” que tem Raul Julia no papel de Chico “Mendez”, em seu melhor sotaque hispânico. Os atores fizeram esforço para aprimorar seus acentos, mas a primazia pelos atores hollywoodianos apenas reforça aquela dúvida de que a capital do Brasil é Buenos Aires, como se pensa por aí, já que ao português mistura-se o espanhol.

O filme também pergunta a várias pessoas o que vem a suas mentes quando pensam em Brasil. A reposta é bastante semelhante: “carnaval, futebol, mulata, samba”. Alguns ainda dizem que “todo dia tem festa, eles nunca trabalham”. É o que os filmes retratam. Levam em seus títulos palavras e expressões ligadas ao hedonismo como “prazer”, “tudo pode acontecer”, “wonderland”. Parece que no Brasil não se trabalha, estuda, produz. Um dos entrevistados justifica, dizendo não se interessar em ver país igual ao dele, mas sim um exótico, diferente.

O documentário também mostra filmes que retratam um Brasil com mais fidelidade, mas que não foram lançados. Um deles era do ator e diretor Orson Welles, produzido no Brasil, mas cancelado por mudança do presidente da produtora. Outro filme que também não obedeceu ao padrão de clichê, “Le Grabuge”, do diretor Édouard Luntz, acabou não sendo lançado, porque o produtor queria mudar o filme, adicionar os clichês, e Édouard não permitiu. Por conta disso, houve um processo, que o diretor ganhou, mas seu filme não foi lançado e sua carreira cinematográfica ficou abalada.

Filmes que reafirmam os clichês e estereótipos do Brasil, ou do Brasil da imaginação dos estrangeiros, que é um misto de candomblé com carnaval e sexo, apenas contribuem para o preconceito ou assombro. Como quando se admite ser brasileiro, alguém já olha, se for mulher, como prostituta, se for homem, como preguiçoso e incapaz. Mentiras acerca do país e do povo, que limitam a consciência que têm eles, estrangeiros, que temos, alguns de nós e que trazem mais e mais turistas a procura do Brasil de mentira de Hollywood, que fala espanhol.

Poema de Coruña

Um nunca contentar-se de contente
intinerante
viajante
encantado ao ver o conhecido na velha paisagem
ou o desconhecido no novo
o conhecido nos olhos do desconhecido.

sentir o velho cheiro de mar
do mesmo mar, do outro lado
o mesmo sol
do aviao, do ceu
nascendo na terra, morrendo no mar
ver o Finisterrae
a fé e a discrença.

ver os costumes desacostumada
ver o nada, pela noite fria
aquecer o leito
ao som do coro da igreja.

Sentir-se como Lancelot,
sempre errante
na mesa redonda
planejando viagens
tendo no cálice sagrado
uma santa desculpa para explorar o desconhecido.


Um poema para quem já viveu, para quem viverá, para a luisa e para mamae.

http://luisaqn.blogspot.com/

domingo, 3 de agosto de 2008

Átomos

O átomo,
Matéria - prima das coisas,
Todas as coisas,
Do corpo,
Do que alimenta o corpo,
Do outro corpo
Que o primeiro corpo ama,
Que um terceiro corpo odeia,
Que um quinto corpo conhece,
Que um sétimo corpo inveja,
Que o primeiro corpo assiste,
Ao que o décimo corpo se funde.

Se sao formados pelo mesmos átomos,
Por que fazem coisas diferentes?
Por que uns sao brancos, outros negros,
Alguns brilham, outros sao foscos,
Uns mais maleáveis, outros nao.
E por que os átomos têm tamanhos diferentes?
Para se diferenciarem?
Para criarem corpos menores, maiores,
Líquidos ou sólidos.
( E gasosos, que corpos soltam, ao longo da vida, e quando morrem)

Entao, esta poesia nao é sobre átomos.
É sobre os corpos, que eles formam
É sobre os corpos que eles destroem e criam
E sobre os corpos que os criam ou destroem
Destruindo algumas vezes outros corpos.


Poema de 04/07/2005

Ócio

O que é o ócio?
Para mim, neste momento,
O ócio seria
Esperar o ócio
Que passei muito tempo esperando,
Mas nao entendia
Que o ócio do ócio
É o por ele esperar.

Publicada em 04/07/2005